Como fornecemos água a 8,6 bilhões de pessoas?
Juan E. Notaro
Presidente Executivo do FONPLATA – Banco de Desenvolvimento
Fornecer água potável e segura para toda a população mundial não é fácil, mas estamos trabalhando nisso.
Com as tendências atuais de crescimento, em 2030 haverá 8,6 bilhões de pessoas no mundo. Um dos objetivos das Nações Unidas para esse ano é que todas essas pessoas tenham acesso a serviços de água e saneamento.
Olhando para os números atuais, é claro que estamos ainda muito longe da meta, especialmente nos países em desenvolvimento. E que fatores como a mudança do clima, o crescimento das cidades e a superexploração agrícola complicam o quadro.
Em alguns casos, problemas de acesso a fontes de água confiáveis e seguras já geraram o que os especialistas chamam de “estresse hídrico”. Ou seja, quando a demanda supera a disponibilidade de água, ou essa disponibilidade é de baixa qualidade.
Se considerarmos apenas o estresse hídrico, a ONU estima que haja 2 bilhões de pessoas afetadas. Acrescente-se a isso que 80% das águas residuais voltam aos mares e rios sem tratamento e que quase um bilhão de pessoas não possuem instalações sanitárias.
Para água e saneamento de qualidade, precisamos de fontes seguras e sustentáveis, sistemas que os transportem para as pessoas e tratamento de águas residuais para reduzir seu impacto no meio ambiente.
Essa é a tarefa que as Nações Unidas se propuseram no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, roteiro apoiado por 193 países em todo o mundo e que se comprometeram a cumprir antes de 2030.
"Água limpa e saneamento" é, de fato, a meta número seis (de dezessete). Com 40% da população mundial com pouco ou nenhum acesso a água potável ou instalações adequadas para o descarte de águas residuais, a necessidade de ação é urgente.
Tão urgente, que as Nações Unidas declararam o período de 2018-2028 como "a década da ação pela água", programa do qual participam dezenas de países e organizações e que abrange todas as frentes: desde a formulação de políticas até tecnologia de ponta.
A urgência do problema tornou-se ainda mais relevante nos últimos doze meses, quando todos fomos ameaçados por um vírus contra o qual recomendam, entre outras medidas, lavar as mãos com frequência.
A falta de água durante a pandemia em algumas áreas do mundo tornou especialmente vulneráveis as mulheres, que têm sido as principais provedoras de cuidados para as pessoas infectadas.
Portanto, se antes da pandemia a falta de acesso à água potável era um problema, hoje é uma chamada urgente de atenção para combater a pobreza, superar as injustiças e contribuir efetivamente para a igualdade de gênero.
É por isso que no FONPLATA — Banco de Desenvolvimento trabalhamos em conjunto com nossos países membros (Argentina, Brasil, Bolívia, Paraguai e Uruguai) para garantir que seus cidadãos tenham água potável e gestão adequada das águas residuais.
Na Argentina, vamos financiar um programa que, além de abordar o problema da água, visa criar empregos e garantir a proteção do meio ambiente na Área Metropolitana de Buenos Aires, a maior aglomeração urbana do país.
Esse projeto é também exemplo de que, quando falamos em problemas de acesso à água, não se trata apenas de comunidades remotas e isoladas. Em nossas grandes cidades também temos esse desafio.
Essas tarefas também envolvem cuidar da origem dessas águas. Assim, por exemplo, no Uruguai, estamos executando o projeto de preservação da Bacia do Rio Santa Lucia, um dos principais afluentes do Rio da Prata.
Também no Brasil, apoiamos o crescimento das chamadas cidades médias (menos de 200 mil habitantes) com financiamento para ampliar as redes de distribuição de água potável e de esgoto.
Ter água potável em casa e instalações adequadas para eliminar as águas residuais significa melhor qualidade de vida para as pessoas, menos riscos para as populações vulneráveis e melhor capacidade de enfrentar crises sanitárias.
O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 6 das Nações Unidas estabelece um objetivo e nos indica um caminho. Cabe a todos nós — agências de desenvolvimento, governos e organismos internacionais — garantir que isso se torne realidade.
Texto publicado originalmente na coluna mensal de Juan E. Notaro no Huffington Post.
04/02/2021