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América Latina: mercado de trabalho e inclusão da mulher, chaves para o desenvolvimento

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Por Juan Notaro*

Santa Cruz de la Sierra (Bolívia).- O chamado movimento #eutambém (#metoo), que denunciou com sucesso em nível global o assédio à mulher em certos entornos, começou por Hollywood e também poderia ser enfocado no mercado de trabalho. 

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, a OIT, mais de 800 milhões de mulheres de países em desenvolvimento ou emergentes seriam bastante beneficiadas através da maior inclusão no mercado de trabalho.

Na América Latina, o bem-sucedido crescimento econômico depois da crise financeira global a partir de 2008, foi além da posição favorável de suas matérias primas, no âmbito de profundas transformações dos mercados de trabalho da região.

De fato, foram gerados mais de 35 milhões de novos postos de trabalho, absorvendo a crescente incorporação feminina, e fazendo com o que o desemprego tenha sofrido uma redução de maneira mais estável.

Além disso, desde a década de 1990, a participação da mulher no mercado de trabalho regional foi de 35%, segundo o Banco Mundial, um número que supera todas as regiões do planeta, com as mulheres de baixa renda entre as mais incluídas.

Com a queda do crescimento econômico da América Latina em 2011-12, o mercado de trabalho foi afetado, ainda que sem o dramatismo de outros períodos.

A participação feminina no mercado de trabalho e o aumento em anos de educação das mulheres parecem ter contribuído para minimizar o impacto negativo de uma queda no crescimento. De acordo com um recente estudo do Banco Mundial, o acréscimo de um ano de educação secundária para uma menina poderia chegar a significar um aumento de até 18% de sua renda salarial a futuro.

Neste contexto o FONPLATA destinou uma série de projetos na geração sustentável de empregos, em especial para a mulher.

Na Bolívia financiamos um primeiro projeto de geração de emprego urbano, junto com o Ministério de Planejamento, com o qual estão sendo feitas obras de recuperação em dezenas de cidades bolivianas. O objetivo é gerar mais de 6.500 postos temporais de trabalho. Entre as prioridades, foi estabelecido que as equipes de trabalho devem estar integradas “em especial por mulheres”. 

O programa "Acesso ao Financiamento Produtivo para o Norte Grande da Argentina", em um total de 40 milhões de dólares, significou um incentivo fundamental para pequenas e médias empresas dessa região.

Os fundos estão destinados principalmente a projetos de investimento produtivo, exportação e projetos associativos ou cooperativos, em condições muito competitivas de taxas e prazos, para facilitar a criação de novas oportunidades de trabalhos autônomos. 

Neste programa também é dada a prioridade a promover empreendimentos liderados por mulheres, em uma região na qual apenas uma de cada cinco PMEs que exportam são propriedade ou são dirigidas por mulheres, de acordo com dados das autoridades argentinas de Comércio Exterior. 

Um estudo do FMI explica que as mulheres contribuem para a prosperidade com a maior cota de trabalho não remunerado, como a criação dos filhos, destacando que em média a mulher passa o dobro do tempo que os homens em atividades domésticas e quatro vezes mais cuidando dos filhos.

Em Corumbá (Mato Grosso do Sul, Brasil) estão sendo melhorados os acessos a áreas urbanas de alguns bairros periféricos. “Com uma boa drenagem e um bom asfalto as crianças não faltariam a escola quando chove”, nos disse recentemente Bruna Pimenta, uma moradora da cidade.   

Com os filhos nas escolas e uma infraestrutura que favoreça a atividade econômica, muitas residentes de Corumbá - como Bruna - terão mais tempo e melhores possibilidades para contribuir à renda familiar com seu trabalho.  

No entanto, isso não é suficiente, é preciso fazer mais. Com taxas de crescimento regional como as projetadas - que otimistamente poderiam chegar a 2% - não será suficiente para eliminar a pobreza de forma rápida, nem aumentar a presença de novos contingentes no mercado de trabalho, nem gerar oportunidades de progresso para todos, especialmente para as mulheres.

*Texto publicado originalmente na coluna mensal de Juan Notaro no The Huff Post.

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