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As mudanças climáticas atingem as finanças mundiais

Ph. pixabay

Juan E. Notaro

Presidente Executivo do FONPLATA – Banco de Desenvolvimento

Por sua própria natureza, o clima influencia praticamente todos os aspectos de nossa vida. Da mesma forma, as mudanças climáticas e suas consequências estão transformando hábitos, paisagens e atitudes em todo o planeta.

O mundo das finanças — especialmente o do financiamento do desenvolvimento — não é estranho a essa realidade. Os projetos que financiamos estão cada vez mais associados a necessidades específicas de adaptação às mudanças climáticas e sua mitigação.

Essa realidade vem ganhando espaço em nossas atividades, a ponto de praticamente todos os bancos de desenvolvimento do mundo se orientarem por essas considerações na hora de negociar seus empréstimos ou desenvolver novos produtos financeiros.

Já existem seguros, títulos, fundos, cláusulas especiais e diversos outros produtos especialmente pensados para que pessoas, empresas e países se preparem para um mundo em que os fenômenos climáticos tendem a se tornar mais intensos e frequentes.

Em meio a esse panorama, vem avançando a ideia de que as mudanças climáticas devem ser levadas em consideração em todos os aspectos do setor financeiro. Ou seja, devem ser transversais a todas as nossas atividades.

Esta é a razão pela qual há seis anos, durante a assinatura do Acordo do Clima de Paris, mais de 20 instituições financeiras em todo o mundo criaram a iniciativa Climate Action in Financial Institutions (Ação Climática em Instituições Financeiras).

Essa iniciativa busca gerar trabalho colaborativo em rede entre as instituições participantes, para aprenderem umas com as outras e trocarem conhecimentos entre si e com a comunidade empresarial e financeira em geral, divulgar boas práticas e lições aprendidas e colaborar em áreas de interesse comum.

Hoje, a Iniciativa já conta com mais de 50 aderentes, que seguem estes cinco princípios: compromisso com estratégias climáticas, gestão de riscos climáticos, promoção de objetivos climáticos “inteligentes”, melhoria do desempenho climático e responsabilidade pela ação climática.

O compromisso com as estratégias climáticas deve partir dos mais altos níveis de gestão e, além disso, ser definido em estratégias e políticas específicas e com objetivos claros e mensuráveis, integradas em todas as atividades da instituição.

A gestão do risco climático envolve a revisão exaustiva da carteira de crédito, tanto os aprovados quanto os que estão em andamento. E também trabalhar com clientes para encontrar maneiras de lidar com os impactos do clima e construir resiliência e sustentabilidade.

A promoção de objetivos climáticos “inteligentes” passa pelo envolvimento de todas as partes do negócio no desenvolvimento de produtos especializados, como títulos “verdes”, risco compartilhado ou financiamento combinado.

Para cumprir o princípio de melhoria do desempenho climático é importante contar com indicadores adequados que permitam monitorar como as atividades relacionadas às mudanças climáticas são priorizadas, bem como a própria pegada de carbono da instituição.

Informações abertas e transparentes são a base para a responsabilidade que reflete o financiamento de iniciativas de energia limpa, adaptação à mudança climática e outras atividades que contribuem para as metas de ação climática.

Por causa dessa história e desse compromisso, há algumas semanas, aderimos formalmente à iniciativa Climate Action in Financial Institutions e adotamos os cinco princípios que mencionei antes.

Diante dos desafios que a crise sanitária e econômica gerada pela COVID-19 apresenta ao planeta e das consequências já bem visíveis e reais da mudança do clima, a única solução é agir em conjunto.

Iniciativas como a COVAX, para levar vacinas aos países menos desenvolvidos, aliança de instituições financeiras em prol da ação climática, e outras, como o compromisso dos bancos de desenvolvimento do mundo para agir mais conjuntamente, são sinais encorajadores. 

No meio de uma das maiores crises econômicas globais e à beira de catástrofe climática global, no caso de não agirmos de forma rápida e eficaz, a resposta deve ser conjunta, sólida e global.

O destino da humanidade é comum a todos os seres humanos, para além dos sistemas políticos e das ideologias. Se trabalharmos juntos, tenho certeza de que o destino trará esperança e progresso.

Texto publicado originalmente na coluna mensal de Juan E. Notaro no Huffington Post.

29/03/2021